Uso a palavra para compor meus silênciosNão gosto das palavrasfatigadas de informar,dou mais respeitoàs que vivem de barriga no chãotipo água pedra sapo.Entendo bem o sotaque das águasDou respeito às coisas desimportantese aos seres desimportantes.Prezo insetos mais que aviões.Prezo a velocidadedas tartarugas mais que a dos mísseis.Tenho em mim esse atraso de nascença.Eu fui aparelhadopara gostar de passarinhos.Tenho abundância de ser feliz por isso.Meu quintal é maior do que o mundo.Sou um apanhador de desperdícios:Amo os restoscomo as boas moscas.Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.Porque eu não sou da informática:Eu sou da invencionática.Só uso a palavra para compor meus silêncios.
terça-feira, 7 de agosto de 2012
O apanhador de desperdícios - Manoel de Barros
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